sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Para quem perdeu a Mostra de Cinema

Se você perdeu a Mostra de Cinema os filmes você não conseguirá ver tão cedo, no entanto saíram os vídeos das entrevistas e debates que aconteceram na Mostra, se você não foi em nenhum, não foi em algum que queria ir, ou quer rever algum momento: os videos estão todos no site oficial da mostra.

Segue o link: http://br.mostra.org/videocasts#vinheta


Alan Parker na FAAP


Win Wenders



Avedikian, Alan Parker e Michael Ciment




terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Brincar de ser adulto

                                        "A vida é muito importante para ser levada a sério."
                                                                    Oscar Wilde





Temos o péssimo habito de romantizar o passado e o futuro, geralmente demonizando o presente. Somos eternamente nostalgicos quando o assunto é infância. Quando olhamos para trás só nos lembramos da parte boa: os desenhos, o carinho dos pais(o clássico cafuné e a histórinha antes de dormir,as músicas, os filmes, as brincadeiras,...).

Olhando agora, parece o paraíso, mas era horrível não poder ver certas coisas, não poder ouvir outras, ser sempre o ultimo a saber das coisas, não ter poder de votação(relevante) nas decisões familiares, ter as "pessoas grandes" subestimando a sua inteligencia, para alguns anos depois superestima-la, achando um absurdo você não  saber o que é alguma coisa aos 8 anos de idade...Lembra-se que no fim tudo o que você queria era ser adulto logo? Enquanto você sonhava acordado querendo ser adulto, seu irmão ou irmã mais velhos, seus pais, tios(os "adultos") olhavam para você e invejavam a sua vida, muitas vezes falando em voz alta que a "sua vida que era vida" e enunciavam as vantagens da infância... Lembra que nessas horas você ficava se mordendo de raiva? Como eles podiam não perceber que a maior parte das suas brincadeiras consistiam em "brincar de ser adulto"?
"Mar de rosas"

Quando ficamos adultos tendemos a ver a infância como um mar de rosas, quando ficamos idosos tendemos a ver a infância e a vida adulta como tal, e na infância vemos a vida adulta como um mar de rosas! Mas nem tudo são rosas na vida, a vida é na verdade uma roseira, portanto tem espinhos, tem beleza e dor.

Claro que o grau da dor é diferente, a dor de uma criança em comparação com a dor de um adulto parece irrelevante, mas há que se lembrar que as belezas da vida adulta tendem a ser maiores. Considere a infância como um botãozinho de rosa; a vida adulta como uma rosa.. cada vez mais linda, mas assim como a vida acaba a da rosa também. E assim como a roseira fica lá quando uma rosa morre, o mundo continua aqui quando nós morremos.

Quando estamos demasiado próximos tendemos a olhar os espinhos, esquecendo-nos das rosas. E quando estamos distantes olhamos só as rosas, esquecendo os espinhos. Uma questão de perspectiva: ver somente as rosas não significa que não hajam espinhos; Ver somente os espinhos não significa que não hajam rosas.

Cultive o jardim da sua vida com coisas boas, não deixe que os espinhos lhe turvem demasiadamente a visão de modo a ignorar as rosas que a vida lhe dá. Se a sua vida adulta te deixa entediado, e você vive nostalgico relembrando da infância, ou imaginando o futuro, por que não tenta brincar de ser criança para brincar de ser adulto com a euforia de outrora, tenho certeza de que sua vida adulta não parecerá nem um pouco chata. Talvez seja o segredo para ver além dos espinhos, não que você fizesse isso quando era criança, mas você pode fazer isso agora, olhando através dos seus olhos de infante a vida que tem hoje.

histórias em quadrinhos







ah, as histórias em quadrinhos. mesmo, desde que me conheço por gente, eu gosto.
lembro-me que meu pai também gostava, mas ele nunca disse isso para mim. o que ele fez foi me apresentar aos 8 anos a uma caixa cinza e branca que ele guardava no quartinho de casa. essa caixa, que eu costumava chamar de caixa de tesouro, estava repleta de histórias em quadrinhos dos anos 50, 60, 70 e 80.
eu me lembro que mergulhei naquilo como se fosse realmente um grande tesouro. e para mim não havia como não ser. eu tinha (acho que ainda tenho) muita imaginação, então as histórias do Tio Patinhas, do Pato Donald, Peninha e do Lampadinha me tomavam de assalto sempre. Era ótimo!
eu arrumava aquela caixa e desarrumava. todos os dias.
lembro-me que um dia distribui todos os quadrinhos na cama de casal dos meus pais. uma cama que tinha uma madeira escura de cabeceira e um colcha felpuda. as revistas iam afundando na colcha e aquilo se tornava a minha sala de aula.
eu era a professora e os quadrinhos tinham cada um o seu lugar e eu perguntava:
- quem tem uma história pra me contar hoje?
e lia uma história dos quadrinhos dizendo:
- muito bem, pato donald, que história boa!
eu fui muito feliz. muito mesmo.
e os quadrinhos, junto com o cinema que eu ia sempre, se tornaram minhas paixões.
lembro-me do cheiro das revistas, do cheiro do cinema, do prazer que eu sentia em ver os filmes e ler as revistas.
eu as guardei. não todas porque algumas de tanto eu brincar, acabaram por estragar. mas guardei algumas e esses dias meu pai me deu outras mais que ele tinha guardado.
- essa são dos anos 50, Lídia. Tenho certeza que você fará bom uso.
a primeira do mickey e outras raridades como a revista proibida do zé carioca, que por ser ditadura, foi censurada no Brasil.
enfim.
as férias eram as mais esperadas: meu pai nos levava a um sebo na cidade e comprava "Almanacão da Turma da Mônica". Já lido, mas não deixava de ser legal de ter, de ler, de passar as férias vendo, pintando. era o mais esperado...
e eu agora eu edito a revisa Café Espacial, junto com meu grande amigo Sergio Chaves. Um revista de: cinema, quadrinhos e literatura.
pode?
essa vida é mesmo incrível.
e eu continuo admirada cada vez que leio algo bom nessa área. como "Maus", "Sete Vidas", "Retalhos", "12 Razões para amá-la" e tantos outros que preenchem minha vida, meu imaginário.
Fora os clássicos: meu primeiro salário da vida foi para o livro da Mafalda, capa dura, coleção completa. Calvin e Haroldo tenho todos. Assim como os do Henfil, do Recruta Zero, do Charlie Brown e os de Charges do Benett, do Angeli, do Laerte.
enfim, não dá para numerar. mas dá para dizer que é um grande alívio saber que o que eu tinha de mais legal na minha infância me acompanha até hoje: os quadrinhos? o cinema?
também.
mas principalmente a paixão. é por isso que levantamos da cama de manhã. por paixão.
e no meu caso, pela paixão por algo tão genuíno meu.



=D

domingo, 5 de dezembro de 2010

100 Sonhos para os próximos 5 anos

Essa semana estava lendo o livro: Mais Tempo, Mais Dinheiro(Gustavo Cerbasi e Christian Barbosa), no livro eles propõe, em resumo, que nos planejemos mais e melhor, planejemos nosso tempo, nosso dinheiro, nossos sonhos, etc... Tendo a qualidade de vida como prioridade.

Todos queremos vencer na vida, mas poucos são os que planejam, que colocam no papel o que querem, que se organizam para vencer. Não sei se foi no livro ou em outro lugar que li que você nunca verá uma pessoa que venceu na vida(que além de dinheiro tem qualidade de vida) desorganizada.

Leiam o livro! Não é um livro de auto-ajuda(no mal sentido da palavra) é uma verdadeira escola de como fazer da sua vida mais agradável e mais próspera. O livro propõe exercícios muito interessantes, um deles consiste em fazer uma lista de 100 sonhos que deseja realizar nos próximos 5 anos, eles disseram que era mais difícil do que parecia, e de fato, é difícil mesmo.O mais interessante desse exercício é que daqui 5 anos(ou menos, se conseguir realizar todos os sonhos em menos tempo) você fará uma nova lista, com novos sonhos.

Já vi muitas listas de: "Coisas que você deve fazer antes de morrer"; mas a ideia dessa lista me parece muito mais agradável, primeiro que é a curto prazo, e você se programa pra realizá-los logo dando lugar a novos sonhos, enquanto que a lista de coisas para fazer antes de morrer você acaba adiando, adiando, pois afinal tem a vida toda para realizá-los, além de correr o risco de morrer sem chegar ao fim da lista.

Quando não colocamos nossos sonhos no papel eles se transformam ou não nos damos conta quando o realizamos, colocá-los no papel não nos deixa esquece-los. Outra vantagem é o gostinho de vitória a cada sonho "ticado" da lista. Proponho então que façam uma lista dos 100 sonhos que desejam realizar nos próximos 5 anos.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Satyrianas - Uma saudação à Primavera

Hoje fazer um convite para quem estiver em São Paulo(capital) nos dias 25, 26, 27 e 28 de novembro: Convido os para o evento: "Satyrianas - Uma saudação à Primavera". Serão 78 horas de atividades ininterruptas.

O evento é realizado pela Cia. de Teatro Os Satyros, "que desde a sua fundação  realizam na primavera um evento que pretende ser uma celebração dionisíaca em homenagem ao poder do teatro." Em 2009. as Satyrianas se tornaram um evento oficial do Calendário Cultural do Estado de São Paulo. O evento tem  início às 18 horas de quinta-feira, 25 de novembro e se encerra às 23h59 de domingo, 28 de novembro.

Satyrianas é um verdadeiro festival de arte, pois além de teatro conta com atividades circenses, cinema, música, literatura, artes visuais, história em quadrinhos e com as artes de rua. Alguns eventos serão gratuitos e os outros tem o valor definido pelo expectador. OU SEJA, CULTURA PARA TODOS! No site: "O objetivo é disseminar o acesso à cultura e às artes por toda a população da capital paulista. Dessa forma, misturando diversidade cultural e facilidade de acesso, a Satyrianas vem se tornando a cada ano um dos maiores e mais populares eventos das artes de São Paulo."

O evento é dividido em:
- DramaMix - 51 peças escritas especialmente para o evento;
- CineMix - exibição de filmes de curta metragem e longa metragem;
- FotoMix - registro fotográfico do evento em tempo real e exibição;
- VisuMix – espaço reservado para as artes plásticas;
- CircoMix – lona de circo para apresentações circenses;
- Sensorial – performances sensoriais;
- Feminix – Território de Mulher;
- Apresentação de espetáculos ao valor de “pague quanto puder”;
- Apresentação de espetáculos de rua;
- Apresentação de espetáculos infantis;
- Apresentação de shows gratuitos ao ar livre;
- Apresentação de espetáculos da companhia Os Satyros;
- Exposição de fotografia;
- Exposição de artes plásticas em parceria com a Fundação Bienal;
- Evento com quadrinistas;
- Intervenções.

Mais informações(incluindo a programação completa) no site: http://satyros.uol.com.br/satyrianas/index.php/as-satyrianas



Fonte: Site Sartyros

sábado, 20 de novembro de 2010

Tsunami X Terremoto - Thiago Cóstackz




Thiago Cóstackz é um artista plástico(além de ativista ambiental) de apenas 25 anos e com um curiculo invejável, em resumo: nasceu no Rio Grande do Norte, "Potiguar de nascimento e cidadão do mundo por opção", em 2003, ainda no RN, fundou a ONG POEMAA(sigla para projeto onírico, ético, musical, artístico e ambiental). Quando chegou em São Paulo(2007) foi apoiado e direcionado pelos curadores do MASP e do Museu de Belas Artes de São Paulo. Já expôs em diversos países do mundo, também realizou trabalhos para grandes marcas internacionais(Hugo Boss, Calvin Klein, DKNY, Puma e M.A.C.). Fundou o primeiro Museu de Eco-Art Sustentável do Mundo(contando com o apoio de artistas de mais de 30 países).

Para quem quiser saber mais sobre quem é Thiago Cóstackz, de onde ele veio e para onde ele vai, entre no site, vale lembrar que o site pode ser visto em português, inglês ou francês.


Golden Queens
Conheci a arte de Costackz semana passada na exposição Tsunami X Terremoto, e ela faz jus ao nome que leva: ela abala estruturas. Quando vi aqueles quadros, estátuas e fotos com cores tão vibrantes dialogando de forma direta com os visitantes questões pertinentes a nossa sociedade, fiquei extasiada. Discutir questões como política, ecologia, direitos humanos, arte e história de forma tão direta não é fácil, mas Cóstacks faz parecer que é.

Rio in Rio/ SP- São Paulo é um parque de diversões
com 6 milhões de carros
Costackz sobre sua arte: "Minha arte é uma loucura. Um estado de espírito, uma projeção, quase uma religião, amor incondicional, uma chama que ateou fogo a mim, uma causa! Um movimento disforme, uma eterna metamorfose caótica do meu âmago. Sútil e terrível, real e complacente. Questionável, porém verdadeiramente forte como a imortalidade das almas, ou ainda frágil como a voz dos imortais que habitam o ar... Sempre roubando da morte.". Sua arte é uma verdadeira declaração de amor ao mundo, defende a preservação das florestas e uma melhor utilização dos recursos naturais não só através de imagens. Ele foi além, sua arte É ecossustentável devido ao uso exclusivo de madeira certificada, tintas não poluentes a base de água, tecidos ecológicos e reciclados(utilizados principalmente nas roupas confeccionada para a exposição Mitos e Ícones).

A mostra contém um módulo dedicado a mulheres de diferentes épocas que na visão do artista estavam a frente de seu tempo e nem sempre foram reconhecidas por seus verdadeiros legados. Esse módulo têm o nome de Golden Queens, e possui 11 retratos e duas esculturas.

Mumtaz Mahal -  Imperatriz indiana, esposa de Shah Jahan I,
que após sua morte construiu o Taj Mahal, como templo/túmulo
 para sua amada.
As mulheres representadas nessa seleção foram: Lady Di(The humanitarian Princess!), Elizabeth I(The Golden Queen of England), Amélie Leuchenberg(II Imperatriz do Brasil), Maria Antonieta(a última rainha da frança), Cleópatra VII, Carmen Miranda, Catarina a Grande(a imperatriz e déspota esclarecida da Rússia), Mumtaz Mahal, Emily Davidson, Boudica, Safo de Lesbos, Teodora de Bizâncio e uma Drag Queen.

Cóstackz sobre o módulo: "De Teodora de Bizâncio a uma Drag Queen, nesta ala, passado e presente se unem de forma divertida para questionar valores e exemplificar  rupturas, viradas sociais, choques culturais, provocações, feminismo, lutas contra todo tipo de preconceito e por direitos humanos."

Banana Gringa X Banana Nacional( Estampa do sapo fluorescente
da  floresta Amazônica, severamente ameaçado.)/ Big Aple Rio?
 e Big Aple SP?
Embora eu admire o estilo de Cóstackz e a sua militância por um mundo mais ecológico e pelos direitos Humanos, o que mais me agradou em sua obra não foi isso. O que mais me agradou em sua obra é justamente a capacidade que ele tem de dialogar com as pessoas, independentemente do nível cultural delas. O fato de ele fazer uma arte que pode ser entendida por todos, não só por críticos de arte ou outros artistas. E quando ela acha que as imagens não dizem tudo ele coloca frases ou textos explicativos junto ás imagens.



Buda com Máscara de Buda
Para mim tornar a arte acessível à todos é o mais importante. Afinal ao longo dos séculos a arte têm se distanciado cada vez mais das pessoas, ditas comuns, excluindo-as das mais incríveis formas de expressão. Essa vontade de Cóstacks de dialogar com todas as pessoas, me fez lembrar um dos artistas que eu mais admiro: Keith Haring. Não os estou comparando, sei como é horrível ser comparado, cada um tem suas particularidades, mas é que não pude evitar enxergar essa semelhança entre eles. Que deveria ser uma característica comum à todos os artistas. Acredito que todos os artistas possuem o desejo de comunicar suas ideias à todos, mas não são todos os que conseguem. Thiago Còstackz é um desses poucos que conseguem.

Para finalizar uma frase do livro Faça Arte - Francesc Petit: "Arte é a sublimação da criatura humana, onde ela expressa seus pensamentos e vontades, como os primitivos, que jamais foram globalizados.".



Stephen Hawking- O Dr. Cosmus/ O santo ET




GAGA! "Art 2012 o fim do mundo"- você vai?/I love Charles Darwin!
Deus o abençoe.


Tsunami X Terremoto - Thiago Cóstackz

Fonte: Catálago da Mostra Tsunami X Terremoto

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um olhar atento

Stanislavski

Muitas pessoas(quase todas) têm o péssimo hábito de nunca parar para observar o que ocorre ao seu redor, raramente analisamos nossas atitudes, manias, crenças. Preferimos olhar superficialmente as atitudes, manias e crenças dos outros.. Mas veja bem: olhar superficialmente não chega nem perto de analisar, é julgar, e frequentemente nos precipitamos.

Sempre acreditei na importancia de manter um olhar atento constantemente sobre tudo e todos, inclusive, nós mesmos. Claro que nem sempre segui essa minha crença a risca, mesmo porque, há momentos que pedem uma certa superficialidade, uma leveza no olhar.

Esse olhar atento é importante para uma maior compreenção do mundo que nos cerca, justamente por este ser tão complexo devemos nos manter atentos. Decidi falar sobre a importância de termos um olhar atento após ler o seguinte trecho do livro: "A preparação do ator - Constantin Stanislavski":

"As pessoas, em média não têm noção alguma de como observar a expressão facial, o aspecto do olhar, o tom de voz, a fim de entender o estado de espírito daqueles com quem conversam. São igualmente incapazes de captar ativamente as complexas verdades da vida e de escutar de modo a compreenderem o que ouvem. Se o pudessem fazer, a vida seria melhor e mais fácil para elas, e seu trabalho criador seria imensamente mais rico, nobre e profundo.(...)

Como se pode ensinar às pessoas pouco observadoras a perceberem o que a natureza e a vida estão tentando mostrar-lhes? Antes de mais nada, é preciso ensinar-lhes a olhar e ouvir o que é belo. Esses hábitos elevam-lhes o espírito e despertam sentimentos que deixarão traços profundos na sua memória de emoções. NADA na vida é mais belo do que a natureza, e ela deve ser objeto de constante observação. Para começar, tomem uma pequena flor, ou uma pétala, ou uma teia de aranha, ou um desenho traçado pelo gelo na vidraça. Procurem expressar em palavras o que existe nessas coisas que nos dão prazer. Esse esforço fará com que observem o objeto mais de perto, mais eficazmente, a fim de apreciá-lo d definir-lhe qualidades. E não evitem o lado mais sombrio da natureza. Procurem-no nos charcos, no limo do mar, no meio das pragas de insetos e lembrem-se de que atrás desses fenômenos há beleza, da mesma forma que no belo existe o feio. O que é belo não deve temer a desfiguração. Esta, com efeito, muitas vezes acentua a beleza e dá-lhe maior relevo.

Busquem encontrar tanto a beleza quanto o seu oposto e defini-los; aprendam a conhecê-los e a enxergá-los. De outro modo, seu conceito de beleza será incompleto, açucarado, bonitinho, sentimental.

Voltem-se depois para o que a raça humana produziu nas artes plásticas, na literatura e na música.(...)

Depois que aprenderem a observar a vida à sua volta e a explorá-la para o seu trabalho, vocês se voltarão para o estudo do material emocional mais necessário, importante e vivo, em que se baseia a sua principal criatividade. Refiro-me às impressões que vocês obtêm no intercâmbio direto e pessoal com outros seres humanos. Esse material é difícil de conseguir porque é em grande parte intangível, indefinível e só perceptível no íntimo. É verdade que muitas experiências invisíveis, espirituais, se refletem na nossa expressão facial, nos nossos olhos, na voz, na palavra, nos gestos, mas ainda assim não é nada fácil sentir, perceber o âmago de um outro ser, porque as pessoas nem sempre abrem as portas de suas almas e deixam que os outros as vejam como realmente são.(...)"

Ao longo do livro, sempre me deparo com o seguinte pensamento: embora seja um livro que ajude no preparo interior do ator, ele vai além disso, ele é um livro que ajuda no preparo para a vida! Independente da profissão, ou aptidão, é um livro que todas as pessoas deveriam ler.

Provavelmente, porque é através do teatro, e das artes em geral, que alcançamos o autoconhecimento. E porque não uma maior compreensão daqueles que nos cercam, afinal, só podemos nos dedicar a entendê-los verdadeiramente quando conhecêmos o minímo de nós mesmos.

De qualquer modo, busquem o autoconhecimento, através da música, do cinema, do teatro, da literatura, das artes plásticas, da observação da natureza, etc. Busque através de um desses, de todos. Ou mesmo de outras formas. Mas busque!



Apreciar cada momento!

Ah, e não se esqueça de nunca ter medo de passar um tempo só! Se sentir bem só, é a capacidade de apreciar a própria companhia. E afinal, o único amigo que te companha desde o primeiro lampejo de vida até o ultimo suspiro é você mesmo. Portanto: valorize-se!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Lugares, Estranhos e Quietos - Win Wenders


Win Wenders
A 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo pode até ter terminado, mas nos deixou duas exposições: "Lugares, Estranhos e Quietos" do Win Wenders e "Kurosawa - Criando Imagens para Cinema", sobre a qual escreverei outro dia.



Lugares Estranhos e Quietos- Win Wenders
 A exposição "Lugares, Estranhos e Quietos", conta com 23 fotografias inéditas do cineasta alemão, tiradas nos mais diversos países - editadas em um livro inédito publicado pela Imprensa Oficial. A exposição permanece no MASP até o dia 09 de janeiro de 2011.

As fotos da exposição são enormes, algumas com mais de quatro metros de largura, os lugares são fantásticos, o texto de Wenders na entrada da exposição é encantador.

Transcreverei aqui um texto de Renata de Almeida e Leon Cakoff sobre a exposição:

" REALISMO POÉTICO

Win Wenders comtempla-nos mais uma vez com seu olhar sensível, abrangente e pleno de realismo poético . É o olhar de cineasta, certamente, que prisma as paisagens reais, sem retoques, que nos brinda com essa exposição inédita.

A janela de uma casa em Salvador(2008)
Há complacência neste olhar que se distância do humano, mas que nem por isso o exclui das suas composições. O humano desaparece com a desenvoltura de coadjuvantes representados abstratamente. E quando vemos, é em estado contemplativo, complemento de cenários imperativos.

Win Wenders viaja o mundo, como ele nos revela, virando-se para o lado esquerdo quando os outros querem olhar para o outro lado, onde coisas mais interessantes parecem existir. Este é o cineasta quemarcou gerações com filmes instigantes sobre dimensões e espaçoes existenciais, com personagens absorvidos por paisagens inóspitas ou desconjuntadas. Ao contrário de um filme acabado, o cineasta nos convida agora a interagir em seus cenários com um novo olhar, uma outra impressão melancólica.

Foto de Wenders utilizada em um dos cartazes
da 34ª edição da Mostra de São Paulo
Uma nostalgia intrigante. Rastros vagos de humanidade. Paisagens sem autoria. Resgates Memoráveis.

Lugares, estranhos e quietos. Lugares que o olhar estrangeiro recupera paisagens de espanto ou os livra do abandono.

O estranhamento quebra a quietude destes lugares. Ou será a quietude, nas margens imortalizadas por estes preciosos instantâneos, que nos livra do estranhamento de tantos lugares?


O sistema de ventilação mal cuidado no topo
 de arranha-céu em São Paulo
 A produtora de Wenders se chama Nova Road Movie. E ele viaja sempre em busca de inusitadas e impressivas locações. "Meus filmes são sobre pessoas", ele diz. "Eu sempre começo com lugares que dão emoção e ação ao contexto. Com minhas fotografias eu posso finalmente fazer justiça a esses lugares".

Aos 12 anos Wenders já queria ser pintor e manifestava obcessão por viagens. Pedalou 100 quilômetros até Amsterdã para ver Rembrandt, Vermeer e Van Gogh nos museus. "Quando somos jovens temos uma capacidade maior de aprender sobre sombras, luz e enquadramento." E de todas Capar David Friedrich(1774 - 1840), com suas paisagens tragicamente românticas, era o seu favorito. "Se eu tivesse nascido 150 anos atrás teria sido um viajante que registraria suas impressões em aquarelas". Inspirado em Friedrich, Wenders gosta de dizer que é um "romântico sem esperança". Inspirado em Edward Hopper, Wenders conclama, com assombro, solidariedade à desolação."

Enfim, vale à pena conferir a exposição!


Roda Gigante abandonada na Armênia


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Keith Haring

Keith Haring
Conheci a arte de Keith Haring na exposição promovida pela Caixa Cultural de São Paulo(31/07/2010 à 05/09/2010), me encantei pela sua arte e pela pessoa que ele foi, fui umas 4 vezes na exposição, pensei seriamente em ir atrás da exposição no Rio de Janeiro, que por sinal está nos ultimos dias, acaba dia 14 de novembro,  também na Caixa Cultural, se estiver no Rio, é uma exposição que vale à pena.


"Crack é loucura" - Consternado com os problemas de um
amigo viciado, pintou esse mural no Harlem intuito de chamar
aatenção dos jovens que frequentavam o lugar.
 Keith Haring(1958-1990) começou sua carreira em New York, e estudou na School of Visual Arts, onde encontrou uma comunidade arística alternativa, que estava se desenvolvendo fora do eixo de galerias e museus, e sim nas ruas do centro, nos metrôs e espaços em clubes noturnos e antigos salões de dança.

Keith tem um estilo muito característico, cores vibrantes, estética linear dos cartuns, esculturas abstratas de grande porte, desenhos de giz em paredes de metrô, padrões dinâmicos e gráficos e diversos murais públicos espalhados pelo mundo; alcançou uma linguagem completa, única, e mesmo que não conheçamos seu nome, conhecemos a sua linguagem.

Pop Shop series.
Teve uma carreira curta, mas marcante, conseguiu extinguir a barreira que havia entre as artes popular e acadêmica. Fugiu das galerias, pois acreditava que sua arte deveria ser acessível ao público, e não aos grandes colecionadores, tanto que em 1986 abriu sua Pop Shop, no Soho onde vendia sua arte a preços acessíveis, vendia desde botons à 50 cents à quadros pequenos e médios por $50 dólares, em um dado momento ele teve que limitar o número de quadros a ser comprado por pessoa, pois muitos galeristas estavam comprado vários quadros para depois vender bem mais caro em suas galerias.

Buscou diversos modos de dialogar com a consciência humana, inclusive a poesia. chegou a parar de pintar por um tempo para estudar a conexão entre texto e imagem. Após diversos experimentos com palavras e até mesmo com o código morse, retornou as pinturas, aplicando o que havia aprendido, mas usando o seu próprio sistema de símbolos para comunicar-se no submundo novaiorquino.


"O melhor motivo para pintar é que não
existe motivo para pintar"
Keith Haring

Muitas de suas obras continham mensagens sociais,  além de ter uma relação muito especial com as crianças, para as quais realizou workshops de desenho em escolas e museus nas cidades de New York, Amsterdan, Londres, Tókio e Bordeux; também produziu ilustrações para muitos programas de alfabetização e outras campanhas de serviço público.

A relação de Keith com as crianças era tão especial por que ele as entendia, e mais do que isso, as respeitava. Recentemente foi lançada a versão brasileira do livro: "O livro da Nina para guardar pequenas coisas" no depoimento de Nina Clemente, 22 anos após ter ganho o livro de Keith, ela conta, entre outras coisas, que ele era o único adulto que tinha lugar reservado na mesa das crianças. O livro é realmente um ótimo presente para uma criança, ajuda a desenvolver habilidades criativas, é um livro para desenhar, colar, etc. A relação de Haring com as crianças era tão próxima que tem um site interativo com atividades para crianças, e até um apêndice com sugestões e dicas de atividades para pais e professores, infelizmente o site é em inglês.


Andy Mouse
 Um dos seus personagens mais marcantes foi Andy Mouse, que foi tema de diversas gravuras e pinturas em 1986, Andy Mouse é uma mistura das suas duas maiores influências: Andy Warhol e Mickey Mouse. expondo um personagem cuja própria existência virou moeda corrente. Haring admirava a imersão de Warhol em sua própria época, admirava também sua habilidade em deslocar a arte para uma esfera mais realista. No entando, os olhos cobertos de Andy Mouse beira o lúdico. Símbolos de dólar marcam sua posição; essas ilustrações e pinturas são uma apreciação da influência e poder empunhados por um rato de desenho animado e por um artista pop.

"Ignorancia = Medo/ Silêncio = Morte
Lute contra a AIDS"
Em 1988 foi diagnosticado con AIDS, em 1989 criou a Keith Hatring Foundation, no intuito de fornecer fundos e imagens para organizações em prol da Aids e de programas para crianças, além de expandir o público de seus trabalhos através de exposições, publicações e licenciamento de suas imagens. Haring passou seus ultimos anos de vida fazendo trabalhos de conscientização a respeito da Aids. Morreu de complicações decorridas da AIDS em fevereiro de 1990, aos 31 anos.

O trabalho de Keith atualmente pode ser visto em exposições e acervos de grandes museus em todo o mundo.


Fontes: Catálogo da exposição: Keith Haring - Selected Works(Caixa Cultural)
            501 Grandes artistas - Stephen Farthing

III Mostra de Jazz de Marília

Márcio Negri já tocou com a Filarmônica de Berlim e com a orquestra de Câmara de Moscou. É considerado pela revista Downbeat como um dos 100 melhores saxofonistas do mundo.

Márcio Negri e Jazzbuticaba Ensemble
E o Jazz finalmente marca seu espaço em Marília. Na primeira noite da III Mostra de Jazz o auditório "Octávio Lignelli" ficou mais de duas horas em silêncio, um silêncio que era interrompido apenas por palmas, sussurros e olhares que diziam:
- Bravo!!!
Márcio Negri e Jazzbuticaba Ensemble do grande Luca Bernar conseguiram entre um sopro intenso de sax e um batida forte de piano trazer para Marília um respiro aliviado de cultura e música.
Mais de 200 pessoas se emocionaram e mesmo sem saber pedir bis, aplaudiram e sorriam embaladas pelos aplausos que o próprio Márcio Negri dava ao Jazzbuticaba. E vice-versa.
Um som ainda pouco conhecido pelos marilienses, mas que será reconhecido depois dessa III Mostra.
E Luca, com seu sotaquee italiano maravilhoso dizia:
- Sim, Marília tem Jazz - e era aplaudido.
E tem muito mais ainda por vir.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Apresentações

Bom, em primeiro lugar deixe que eu me apresente:
- Oi, eu sou a Lídia. Sou jornalista, moro (ainda) em Marília e sou apaixonada por arte e cultura. Trabalhei um tempo no jornal na área de cultura e agora trabalho num projeto de cultura do estado, as Oficinas Culturais, no caso, Oficina Cultural Tarsila do Amaral.
Apresentações feitas. E agora o porquê de eu ter quase que "invadido" esse espaço.
A Nathália, que com todo o respeito é a coordenadora do espaço, me convidou um dia desses para escrever aqui e eu já lhes respondo o questionamento que pode estar na cabeça de vocês:
- Como você conheceu a Nathália?
Aqui que a coisa começa a ficar interessante. Em meados de 2008 eu tinha acabado de terminar o meu mestrado. Estava um tanto sem rumo ainda na vida. Dava aulas na faculdade e só. E estava extremamente sem dinheiro. Mas pior do que estar sem dinheiro, é estar sem ânimo.
E então eu me voltei para mim e olhei bem a minha volta: quem era e o que era a cidade de Marília? E como eu sempre gostei de arte e de cultura, percebi que tinha a possibilidade de explorar na minha cidade um espaço chamado "Clube de Cinema de Marília".
Fundado em 1952, é o Clube de Cinema mais antigo do país e ainda está em funcionamento. Mas o acervo estava jogado às traças, num lugarzinho pequeno e escuro do fim do corredor da parte de cima da Biblioteca Municipal da cidade.
E foi lá que conheci a Nathália.
Para mexer naquela história de anos, eu precisava de gente extremamente interessada e com vontade de mexer em ácaros, bactérias e etc. Claro, de luva e máscara.
E a Nati chegou como quem não quer nada. E foi chegando e foi chegando até que se tornou o meu braço direito lá.
É nós vimos mta coisa juntas, muita história, pôsteres, fotos de Leila Diniz a Oscarito, passando pelo amor incondicional das cartas que Ancelmo Duarte escrevia para o Clube. E nos apaixonamos pela ideia de tentar mudar aquela "cena" que nos era apresentada.
pois bem, ficamos lá uns sete meses no mínimo. Fizemos o que tinha que ser feito e com mto amor.
Me lembro bem da carinha da Ná deitada no chão segurando um pôster antigo pra ver se desamassava:
- Está legal Li? Já podemos colar?
E eu via naquela menina um potencial imenso de alguém que acima de tudo ama o que faz.
Não conseguimos ir além no nosso projeto. Forças ocultas? rs
Talvez, mas a má vontade de algumas pessoas embargou a ideia, mas não nos tirou os sonhos e as vontades que conhecemos lá. E não nos tirou a ideia de que o cinema é uma ferramenta preciosa e rica e que deve ser sim estudado, conservado e bem visto.
A Nathália foi embora, morou no Rio, depois voltou para Marília, me apresentou filmes belíssimos e uma vontade imensa de aprender e depois voltou para Sampa.
Me ligou esses dias desesperada sem saber o que fazer da vida, mas ainda apaixonada por cinema. E eu disse para ela:
- Apenas viva, Ná. Viva intensamente. Aproveite esse privilégio de estar em Sampa. Mergulhe na Mostra de Cinema. E não se esqueça de agradecer a vida que tem e as dúvidas que surgirem. Elas que te levarão para frente.
E um pouco depois ela me convidou para escrever aqui. Junto com ela.
De verdade, para mim um privilégio. Porque sinto que a Nathália vai longe, rapaziada. Vai longe. Com toda a força de vontade que tem.
E eu me senti sentada numa cadeira sozinha olhando para o nada e pensado:
- Caralho, o que vou escrever nesse blog? Tem tanta coisa na minha cabeça!
Eu amo cinema. Amo. Junto com as Histórias em Quadrinhos é minha arte preferida. E sei o tanto que ainda tenho que aprender.
Mas sei também que arte e cultura não se medem pelo que a gente sabe, mas sim pelo que a gente vive e se permite viver.
Estou entrando no blogue, gente. Com a licença de vocês.
Sentem-se e sintam-se à vontade.
Espero poder contribuir em algo por aqui. Mas espero também aprender cada vez mais.

Léo e Bia


Oswaldo Montenegro
 "Léo e Bia? Ah, já sei! Àquela música do Oswaldo Montenegro?? 'No centro de um planalto vazio..Como se fosse em qualquer lugar; Como se a vida fosse um perigo; Como se houvesse faca no ar..'"
Na verdade, não. Não é da música que falarei, embora a música seja linda, estou aqui para falar do filme Léo e Bia que foi a estreia de Oswaldo como cineasta.


O grupo
 O filme é a adaptação do musical homônimo sucesso nos anos 1980, a história de um grupo de atores sonhando ganhar dinheiro com a sua arte em plena Ditadura Militar. O filme foi premiado no 14º Cine PE pela melhor trilha sonora e pela atuação de Paloma Duarte. O filme é narrado por Marina, personagem da Paloma.

O filme inteiro se passa em um galpão, onde o grupo faz seus ensaios, ao longo do filme você ri, se revolta, se emociona, quase chora, não dava tempo de chorar, quando o olho enchia de lágrimas elas eram logo interrompidas por um sorriso.


Paloma Duarte como Marina

Há uma analogia entre a mãe(Françoise Forton) da Bia(Fernanda Nobre) e a ditadura, um amor que sufoca, que é difícil nominar, uma repressão seguida de um afago, a vontade de proteger a filha enquanto a tortura física e/ou psicológicamente.

Gravado no Rio de Janeiro, em dez dias, após cinco meses de ensaio com o elenco, foi bancado pelo próprio Oswaldo Montenegro, sem nenhum patrocínio.


Bia e Léo

"No longa-metragem, que tem Paloma Duarte também como produtora, Oswaldo Montenegro opta pela poesia. Sua estética dispensa a avalanche de imagens para priorizar o diálogo. O recurso de ater-se a um só cenário, coisa que remete à idéia de um gigantesco plano seqüência, oferece ao espectador, paradoxalmente, tanto a noção de um refúgio mágico (a caixa cênica) como também uma certa sensação de claustrofobia. Porque igualmente paradoxal era ser jovem no Brasil durante os anos mais duros da ditadura militar. De um lado, a utopia do movimento hippie. Do outro, a liberdade cerceada. Entretanto, ainda que a ditadura se faça presente na narrativa, o filme não se pretende político nem didático. Léo e Bia é, em essência, uma emocionada homenagem à amizade e ao direito de se correr em busca de sonhos. De preferência ao som de violas, sanfonas e muitas canções ao vivo." (trecho retirado do Facebook do filme)

Léo e Bia - elenco


Saí do filme com vontade de assistir de novo, de novo, e quantas vezes mais até sair de cartaz, infelizmente não disponho de tanto tempo nem de dinheiro para morar no cinema. Quem sabe quando sair em DVD eu não realize minha vontade de assistir o filme um milhão de vezes, ou mais.

Elenco: Paloma Duarte (Marina), Françoise Forton (Mãe da Bia), Fernanda Nobre (Bia), Vitória Frate (Cachorrinha), Emilio Dantas (Léo), Pedro Caetano (Cabelo), Ivan Mendes (Brookie), Pedro Nercessian (Encrenca).
Músicos:  Felipe Mendes, Léo Pinheiro, Pedro Gracindo, Renato Luciano, Rodrigo Sestrem e Verônica Bonfim.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Michel Ciment, a arte de partilhar filmes

"Quando perguntei a um jornalista como conseguiam formar críticos tão extraordinários, fui informado acerca de um método muito inteligente e propositado usado na Alemanha. Pedem a um jovem crítico que escreva um artigo elogioso. Qualquer um é capaz de julgar desfavoravelmente; para elogiar, porém, é preciso ser um especialista.

A arte [de um crítico] exige de quem a exerce um talento extraordinário, memória emocional, conhecimento e qualidades pessoais. É muito raro encontrar todas estas qualidades reunidas numa única pessoa, razão pela qual são tão poucos os bons criticos.

Antes de mais nada, um crítico deve ser um poeta e um artista, para que possa julgar a produção literária do dramaturgo e a forma original e criativa que o ator deu a mesma. Um crítico deve ser absolutamente imparcial, para que suas opniões possam inspirar confiança." (C. Stanislavski - My life in Art)


Michel Ciment
 Nessa definição de crítico teatral ideal Stanislavski também descreve o crítico de cinema ideal. E o perfil por ele descrito coincide com o perfil de Michel Ciment, crítico francês e editor da revista Positif, cuja trajetória foi documentado em Michel Ciment, a arte de partilhar filmes. Ciment se destaca por ser um crítico que se permite apreciar os filmes, tem uma sagacidade incrível em "descobrir" novos diretores providos de talento, e também em reconhecer a decadência de um grande diretor.

No documentário Win Wenders fala que em um festival como o de Cannes, depois da primeira entrevista, já é possível saber todas as perguntas das 200 entrevistas seguintes, até que Michel Ciment chega, ele sempre tem perguntas sagazes, fugindo ao óbvio.

Ciment é também um grande apreciador de outras artes, como pintura, literatura, teatro, música, seu sucesso como crítico se deve a isso, pois ele não desvincula uma arte de outra. Também escreveu alguns livros sobre grandes diretores que marcaram a história do cinema: Kazan par Kazan(1973), Stanley Kubrick(1980),
Theo Angelopoulos (1989), Fritz Lang: le meurtre et la loi (2003), entre outros.

A lição que Ciment nos dá é que tanto criticos quando leigos devem se permitir amar o cinema, e não só o cinema, mas todas as formas de arte.

A leter to Elia


Scorcese e Kazan
 "Para o diretor Martin Scorcese, crescer no bairro de Little Italy, em Nova York, assistindo a Sindicato de Ladrões(1954) e Vidas amargas(1955) quando jovem foi uma experiência que mudou sua vida. Martin Scorcese apresenta ap espectador a vida de Elia Kazan(1909-2003) através de sua própria vida, e por sua percepção de que havia um artista atrás das câmeras, alguém "que me conhecia, talvez mais do que a mim mesmo". O cineasta fala sobre estar exposto aos filmes certos na hora certa em sua vida adolescente, quando se está aberto e pronto para trocar informações; ser estimulado pelo trabalho na tela e então, talvez, traçar planos para fazer seus próprios filmes." (Resenha retirada do catalago da Mostra Internacional de cinema de São Paulo)



Elia Kazan
  Uma carta para Elia(2010), roteiro e direção por Martin Scorcese e Kent Jones, definitivamente não é um filme dito "de circuito", nem acredito que a intenção de Scorcese fosse essa. O filme é um agradecimento de Scorcese a Kazan por todos os filmes fantásticos e de uma sensibilidade inigualáveis por ele feitos.

Scorcese nunca tentou explicar para Kazan, quando este estava vivo, o quão importante seus filmes haviam sido em sua adolescência pois sabia que Kazan nunca poderia entender a importância de seus filmes para ele.



1999 - Lifetime achievement Oscar
 Os filmes de Kazan foram tão importantes para Scorce principalmente pois ele era capaz de se reconhecer nos filmes, além de reconhecer pessoas comuns do seu bairro. As pessoas, o modo de falar, de vestir, de agir, as situações, tudo nos filmes de Kazan o remetiam a vida real. Isso o intrigava demasiadamente, no filme ele conta que chegou a perseguir o filme Vidas Amargas, o filme saia de um cinema para outro e lá estava ele atrás do filme.

O filme é também uma declaração de amor à grande arte chamada cinema. É emocionante ver um grande diretor como o Scorcese falando de forma tão humilde e tão aberta. Você sai do filme quase acreditando ser um amigo intimo de ambos.

domingo, 31 de outubro de 2010

Ouça-me


Yang Yang

"Yang Yang é uma jovem que cuida sozinha de sua irmã Peng, uma nadadora que está treinando para as Olimpíadas de Surdos. Um dia Yang Yang encontra Tian Kuo, o rapaz que entrega marmitas na piscina onde Peng treina. Apesar de se comunicarem apenas pela linguagem dos sinais, o amor entre eles supera a lacuna criada pelo silêncio." (Resenha retirada do catálago da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo)

Ouça-me(2009) é o segundo longa-metragem de Fenfen Cheng, nascida em Taiwan, trabalhou como roteirista para séries de televisão antes de sua estréia como diretora de longas-metragens. Fato que existem diversos filmes de "primeiro amor"/"superação de barreiras, mas o que marca, neste filme em particular, é a inocência nele retratada.
Ouça-me

É divertido ver cenas onde um tenta se declarar para o outro, mas não consegue, pois tem vergonha, ou como se engasgam ao "falar", os mal entendidos que acontecem. É divertido pois nos lembramos que fomos exatamente assim em algum momento de nossas vidas, quando Tian Kuo, espera anciosamente Yang Yang entrar na internet, e diante da demora ou da ausência de respostas fica agoniado, começa a falar sózinho e inventa mil e uma explicações para ela não estar ali falando com ele.

É um filme fácil de assistir, embora a cultura Oriental seja completamente diferente da Ocidental, nesse filme podemos ver claramente um elo entre ambas. Apesar de adorarmos enfatizar nossa individualidade e nossas diverença em matéria de relacionamento e amadurecimento somos todos mais parecidos do que imaginamos.

Alan Parker's day!

                                                              
           "A great movie evolves when everybody has the same vision in their heads."   Alan Parker

Alan Parker
  Quinta feira(28/10/10) foi o dia do Sir Alan Parker na Faap, foram passados 3 filmes dele ao longo do dia(infelizmente não pude assistir Bugsy Malone - Quando as metralhadoras cospem), com direito a encontro com o Alan no fim da noite.


Bob Geldof
 À tarde assisti The wall(trailer - filme de 1982), já havia assistido ao filme, só que assistir The Wall no cinema é completamente diferente. Desde o princípio a turnê do disco The Wall seria um filme,a idéia inicial era fazer um filme à partir de imagens dos shows feitos na turnê, que já contavam com as animações do desenhista e catunista Gerald Scarfe, tais idéias só foram alteradas quando Alan Parker foi à EMI pedir permissão para adaptar a história, a gravadora disse-lhe que procurasse o Roger Waters pessoalmente, Parker conseguiu adaptar o filme, junto com o próprio Roger Waters, além de convencê-lo que ele não deveria dirigir o fime, nem interpretar o Pink(protagonista). Para o papel escolheram Bob Geldof, músico punk e revolucionário da Inglaterra. O filme é permeado pelo silêncio e angústia do personagem e pela expressividade das músicas e das imagens. Para quem quiser mais detalhes e curiosidades sobre o filme, o DVD, contém extras interessantissímos falando mais detalhes sobre o filme , da concepção às filmagens/montagem.

Brad Davis
Após The Wall, foi exibido o filme Midnight Express(O expresso da meia noite - 1978), baseado na história real de Billy Hayes, Billy é preso saindo da Turquia, no aeroporto, por tráfico de drogas(haxixe) no filme ele o fazia pela primeira vez, no intuito de vender somente para os amigos mais próximos, o verdadeiro Billy era mesmo um traficante de drogas. Foi condenado a 4 anos e meio de prisão, onde foi torturado fisica e psicologicamente, quando faltavam poucos dias para ser solto, sua pena foi alterada para prisão perpétua, o personagem enlouquece por um tempo, mas após a visita de sua namorada consegue se recuperar e fugir da cadeia.

No filme nota-se uma intensidade, principalmente na atuação de Brad Davis, um momento marcante no filme é a cena onde Billy tem uma luta com Rifki, dedo duro da prisão, e termina a luta arrancando a língua dele com a boca. Ao ser indagado sobre a intensidade do filme, principalmente nessa cena, Alan conta que todos se envolveram muito no filme, que o filme foi tão intenso por que conseguiram criar o "clima" para isso, que ele mesmo se envolveu muito no filme, e existem até fotos do próprio Alan Parker interpretando essa cena, rindo-se ele se lembrou que após fazer essa interpretação metade da equipe estava em um canto afastado do set.

Brad Davis- Cena do tribunal

Após a sessão ele nos contou alguma curiosidades. Na divulgação de Midnight Express estavam presentes Brad Davis(ator), o verdadeiro Billy e o próprio Alan, durante as viagens notou que Billy sentia-se como se fosse realmente uma estrela e o ator estava realmente acreditando que havia passado 4 anos na prisão. O triste é que o ator nunca conseguiu realmente se recuperar após o filme, nunca mais teve nenhuma atuação significativa, morreu em 1991, aos 45 anos.

Sobre a dificuldade de se fazer um cinema artistico, Alan fala que o foco de Hollywood tem sido o de um público mais jovem e imaturo, por isso a predileção por efeitos especiais. Em entrevista ao Ultimo segundo: “Filmes deviam nos fazer pensar sobre nossas vidas e nas vidas de outras pessoas. A razão de ir ao cinema não é está relacionada à tecnologia, mas sim para ouvir o que alguém tem a dizer. Do contrário, na minha opinião, o filme não tem razão de existir. Torço para que essa moda passe, as pessoas cansem e um dia percebam que o 3D era apenas uma farsa.”

O encontro com Alan doi uma verdadeira aula sobre direção cinematográfica. Infelizmente não lembro tudo o que foi falado na mostra, mas acredito que logo seram liberados vídeos desses encontros no site da mostra, uma vez que foram todos filmados.