sábado, 12 de fevereiro de 2011

Santiago




Santiago, de João Moreira Salles (Brasil, 2007)


Eu (re) vi esse filme ontem. Santiago. Havia visto esse filme há algum tempo atrás, não me lembro com quem nem onde. Acho que em São Paulo mesmo. E o que mais me ficava desse filme antes de eu voltar a revê-lo era que ele era em preto e branco e sobre o mordomo os Moreira Salles. Só? Só. eu acho. Mas eu também sabia que era bom e por isso resolvi revisistar esse filme com um tantinho mais de carinho e atenção.
Na verdade, não é um filme, mas um documentário sobre a peculiar figura de Santigado, o mordomo que por 30 anos cuidou da família Moreira Salles. E eu pensei: qual era mesmo o sentido de um documentário sobre esse cara? 
e ontem, ao rever o filme eu entendi: o sentido talvez seja a gente ser um tantico assim ó, mais leve, mais aberto. O João quando fez o filme deixou muitos takes abertos, não no plano da imagem, mas na câmera aberta filmando o que ele falava com Santiago. 
E o Santiago ia misturando espanhol com italiano e francês. E tentando fazer o melhor, servindo, realmente, Joãzinho que estava ali na frente dele tentando captar imagens desse homem que foi fantástico. Daí que eu me pergunto: o que era mais importante captar - o que o João queria ver do Santiago ou o que o Santiago era de verdade?
E eu gostei desse filme justamente por isso: por ele me apresentar a história de alguém através do olhar de outro alguém, não a pessoa em si, mas o personagem ao qual ele se presta ser. E isso pode ser percebido em nós mesmos.
Somos personagens de nós mesmos. Todos os dias, todo santo dia nós nos vestimos de mães, pais, trabalhadores, amigos, filhos, mordomos. Menos de nós mesmos. Quem somos nós? Quem era Santiago?
como diz o próprio João: ele continuava a ser o mordomo e eu o filho do patrão. 
Um documentário belíssimo, cheio de imagens lindas e de histórias interessantes que vale a pena assistir. Ver ou rever. 
Mas para você que não entendeu nada do que escrevi até agora, eu vou deixar uma sinopse do filme: leia, assista, comente.
Santiago é encantador. e o mais simples está mesmo no que a imagem não vê, no que o João não gravou. 


Sinopse:
Santiago é o nome do filme e do personagem. Durante 30 anos, Santiago foi mordomo da família de Salles, uma família muito rica, culta e influente, como fica claro no filme. Santiago trabalhou na casa da Gávea, onde João Salles morou até os 20 anos e que hoje abriga o Instituto Moreira Salles, um centro de referência para a música e para a fotografia no Rio de Janeiro.
Em 1992, o realizador percebeu a singularidade do homem que viria a ser seu personagem no filme. Já aposentado, Santiago mora em um pequeno apartamento do Leblon, no Rio de Janeiro. Ali leva uma vida solitária entre as 30 mil páginas que escreveu relatando os dramas e vidas de mais de 500 anos de nobrezas e dinastias de todo o mundo. Santiago se relaciona com esse passado, seu e das nobrezas - ele de certa maneira viveu em uma - com a paixão de quem acompanha um folhetim, uma novela, um melodrama. Como frisado pelo filme, seu universo se estende entre épocas e culturas, entre Hollywood e Versailles, entre Gioto e Beethoven. 
....
Apesar do personagem, João Salles abandona o filme em 1992. Quando retoma o filme em 2005 é ele próprio que vira personagem. Narrado em primeira pessoa, na voz do irmão, Fernando Moreira Salles (apresentado em inglês no festival em Paris, com narração de Fernando Alves Pinto), o processo do filme passa a fazer parte dele e aparece, sobretudo, como uma autocrítica ao seu modo de conduzir o filme em 1992 e ao fato de na época não ter percebido a relação de poder ali presente. Ao poder do documentarista se somava o poder do filho do patrão. Em uma das cenas mais reveladoras e afirmativas, Salles é chamado de “maravilhoso Joãozinho” por Santiago. Cena que na época João Salles pede a Santiago para repetir sem mencionar seu nome e que hoje é parte do filme. Durante as filmagens a hierarquia deveria ser apagada, hoje ela é tema do filme.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

¿Au revoir cine Belas artes?

"Arte é a sublimação da criatura humana, onde ela expressa seus pensamentos e vontades, como os primitivos, que jamais foram globalizados."

Passeata em prol do tombamento do Bellas Artes

Todos sabemos que pouco a pouco(na velocidade da luz) os cinemas de rua tem desaparecido, o interessante é que muitas pessoas se revoltam com o fim dessas salas, mas como no Brasil o povo não tem voz(nem se dá voz, devido a fatores históricos que não cabe explicar aqui), de modo que a hora que vamos ver o cinema já fechou, o salário dos deputados aumentou, e a população continua na merda, com as opções de lazer cada vez mais restritas.

Com o fim dos cinemas de rua(exceto os poucos sobreviventes que se concentram nas metrópoles) nos restam os cinemas de shopping, "com os enlatados dos USA"(como diria o meu ídolo Renato Russo). O poder público brasileiro parece estar cada dia mais engajado no processo de alienazação do povo, é preferível gastar bilhões em estádios de futebol e infraestrutura para as Olimpiadas, que assim que ficarem prontos já estarão obsoletos, afinal é disso que o povo gosta não é mesmo!?!?! Ou é isso que eles programam o povo pra gostar? O IDH brasileiro subiu por causa da "educação", mas é fácil quando se formam analfabetos funcionais a cada ano com essa história de progressão continuada, assim fica fácil contentar-se com o bom e velho "pão e circo".

São tantas coisas revoltantes que eu chego a me perder, mas é nos cinemas de rua que você pode assistir aos filmes tidos como "fora de circuito", não por que são de qualidade inferior, ou por que são abstratos, mas por que eles fazem com que as pessoas pensem, reflitam sobre o mundo em que vivem e sobre seu modo de viver. Num país onde as crianças não são incentivadas a frequentar bibliotecas, não por que não tenham interesse, mas porque não as deixam entrar, ou recusam-se a emprestar livros a uma criança(livros infantis, que estão lá para isso); é de se esperar que em um país como esse qualquer instituição que incentive o pensamento não tenha apoio.

Nos últimos anos os cinemas de rua tem virado estacionamentos ou supermercados, realmente é muito melhor colocar mais um estacionamento na cidade para que mais pessoas comprem carros e saiam por aí emitindo  gás carbônico só para acabar de vez com o planeta; e supermercados? convenhamos, ninguém mais acredita que realmente haja uma concorrência leal, quase todos(em São Paulo) pertencem ao mesmo grupo, desnecessário dizer qual.

No facebook existe um aplicativo chamado Causes, e uma das causas defendidas é: "SALVEM AS SALAS DE CINEMAS DE RUA" (em caps lock mesmo!) até o momento em que esse texto foi escrito com 2077 membros, e diversos depoimentos de pessoas que sentem falta dos cinemas de rua e que detestam ter que ir á shopings para assistir filmes.

O Edificio do Belas Artes ainda pode ser tombado com patrimônio público, hoje(18/01) será votado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo) o pedido de tombamento como patrimônio material e imaterial da cidade. Mas mesmo assim não é certeza que as atividades do cinema continuaram acontecendo no prédio, para isso será necessária autorização do IPHAN.

O  Instituto Via Cultural, que protocolou na Prefeitura de São Paulo um pedido de tombamento do espaço, está promovendo um abaixo-assinado online para que mais pessoas possam manifestar apoio à causa. Para participar, clique aqui. Ajude a salvar esse cinema que já tem 68 anos de história.

Eu sinceramente espero não ter que terminar o dia de hoje dizendo: "AU REVOIR CINE BELAS ARTES".

Fontes: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/855158-apos-68-anos-belas-artes-vai-fechar-as-portas-em-sao-paulo.shtml
http://www.culturaemercado.com.br/politica/belas-artes-pode-ser-tombado-como-patrimonio-de-sao-paulo/

domingo, 16 de janeiro de 2011

Primeiras Impressões Sobre o Cinema Espanhol


Penélope Cruz em Volver(Almodovar)
 Além de alguns cursos e muita leitura tenho aproveitado as minhas férias para ver filmes, particularmente os filmes espanhóis, e não importando a data de filmagem, o diretor ou o enredo eu encontrei um fator em comum entre os filmes espanhóis que vi até agora: a paixão.

Ao ver os filmes espanhóis eu vejo uma verdadeira paixão pela vida neles, pode ser que eu esteja enganada e que na realidade seja completamente diferente, mas a impressão que eu tenho quando assisto um filme espanhol é que eles realmente amam a vida mais do que tudo e procuram vivê-la o mais intensamente possível. Parecem viver intensamente cada segundo, do mais banal até o mais "importante".

Tango(Carlos Saura)

Nós brasileiros adoramos dizer que sabemos viver a vida, que somos bem humorados e tornamos isso nossa assinatura, nosso passaporte, mas nós na verdade temos um humor negro, enquanto tragédias acontencem, fazemos piadas; tratamos a política, a fome, as diferenças sociais como piadas. Mas mais do que isso: tratamos nossas próprias vidas como piadas. Fazer piadas com a própria desgraça não é viver intensamente. Levar uma vida bohemia não é vivê-la intensamente. Embora no Brasil pense-se que sim.

Diferente dos brasileiros os espanhóis parecem viver com intensidade cada  segundo, se estão tristes eles vivem essa tristeza, assim como vivem a alegria, se estão apaixonados eles vivem a paixão. Acho que a diferença está no "entregar-se à vida". Fazendo uma anologia gastronômica em homenagem ao filme espanhol que vi ontem no cinema(Dieta Mediterrânea), os filmes espanhóis parecem ter um tempero a mais do que os brasileiros.
Dieta Mediterrânea(Joaquín Oristrell)
 Não que os brasileiros sejam ruins, muito pelo contrário, estão cada vez melhores, talvez o que esteja faltando seja o mesmo que falta na culinária brasileira: um pouco de tempero. Existem tantos temperos fantásticos, e nós usamos praticamente só o sal!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Abelardo Morell

"A fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um registo da realidade e um auto-retrato, porque só o fotógrafo vê aquilo daquela maneira."  Gérard Castello Lopes

Impressionante como sempre existem coisas fantásticas a serem "descobertas" todos os dias, parece não haver limites para a criatividade humana nem para a capacidade de combinar conceitos pré-existentes para criar algo único.

Abellardo Morell, 2006
 Abellardo Morell é uma dessas pessoas que valem a pena "descobrir", nascido em Havanna-Cuba, foi radicado nos Estados Unidos, é considerado um dos fotografos mais inovadores dentre os  fotografos vanguardistas que eram contra a noção da fotografia como uma atividade culturalmente controlada.


Utilizando o conceito de pinhole(a pinhole é basicamente um compartimento todo fechado onde não existe luz, ou seja, uma câmara escura com  pequeno orifício), Morell passou a fotografar ambientes,paisagens, monumentos em ambientes fechados, transformando quartos(a principio os de sua casa e depois de hotéis), salas de museus, escritórios em câmeras escuras.


Como o tempo de captação da foto é maior que o de uma câmera normal só é registrado a paisagem, as pessoas, carros e animais que passam não aparecem na foto. Para saber mais sobre Morell e sua obra entre no site oficial dele.


Manhattan View Looking South in Large Room, 1996
View of the Brooklyn Bridge in Bedroom, 2009


The Pantheon in the Hotel Des Grands Hommes, 1999


The Eiffel Tower in the Hotel Frantour, 1999


Windows in Gallery With Two Paintings,Whitney Museum, 2003

Camera Obscura: View of Florence Looking Northwest Inside Bedroom, 2009

View of Landscape Outside Florence in Room With Bookcase, 2009
FONTES: http://www.abelardomorell.net/
http://imagensdomeumundo.blogspot.com/2009/10/o-mundo-intrigante-de-abelardo-morell.html
http://www.eba.ufmg.br/cfalieri/frame.html
http://blogs.abril.com.br/clickando/2008/12/frases-sobre-fotografia.html