Santiago, de João Moreira Salles (Brasil, 2007)
Eu (re) vi esse filme ontem. Santiago. Havia visto esse filme há algum tempo atrás, não me lembro com quem nem onde. Acho que em São Paulo mesmo. E o que mais me ficava desse filme antes de eu voltar a revê-lo era que ele era em preto e branco e sobre o mordomo os Moreira Salles. Só? Só. eu acho. Mas eu também sabia que era bom e por isso resolvi revisistar esse filme com um tantinho mais de carinho e atenção.
Na verdade, não é um filme, mas um documentário sobre a peculiar figura de Santigado, o mordomo que por 30 anos cuidou da família Moreira Salles. E eu pensei: qual era mesmo o sentido de um documentário sobre esse cara?
e ontem, ao rever o filme eu entendi: o sentido talvez seja a gente ser um tantico assim ó, mais leve, mais aberto. O João quando fez o filme deixou muitos takes abertos, não no plano da imagem, mas na câmera aberta filmando o que ele falava com Santiago.
E o Santiago ia misturando espanhol com italiano e francês. E tentando fazer o melhor, servindo, realmente, Joãzinho que estava ali na frente dele tentando captar imagens desse homem que foi fantástico. Daí que eu me pergunto: o que era mais importante captar - o que o João queria ver do Santiago ou o que o Santiago era de verdade?
E eu gostei desse filme justamente por isso: por ele me apresentar a história de alguém através do olhar de outro alguém, não a pessoa em si, mas o personagem ao qual ele se presta ser. E isso pode ser percebido em nós mesmos.
Somos personagens de nós mesmos. Todos os dias, todo santo dia nós nos vestimos de mães, pais, trabalhadores, amigos, filhos, mordomos. Menos de nós mesmos. Quem somos nós? Quem era Santiago?
como diz o próprio João: ele continuava a ser o mordomo e eu o filho do patrão.
Um documentário belíssimo, cheio de imagens lindas e de histórias interessantes que vale a pena assistir. Ver ou rever.
Mas para você que não entendeu nada do que escrevi até agora, eu vou deixar uma sinopse do filme: leia, assista, comente.
Santiago é encantador. e o mais simples está mesmo no que a imagem não vê, no que o João não gravou.
Sinopse:
Santiago é o nome do filme e do personagem. Durante 30 anos, Santiago foi mordomo da família de Salles, uma família muito rica, culta e influente, como fica claro no filme. Santiago trabalhou na casa da Gávea, onde João Salles morou até os 20 anos e que hoje abriga o Instituto Moreira Salles, um centro de referência para a música e para a fotografia no Rio de Janeiro.
Em 1992, o realizador percebeu a singularidade do homem que viria a ser seu personagem no filme. Já aposentado, Santiago mora em um pequeno apartamento do Leblon, no Rio de Janeiro. Ali leva uma vida solitária entre as 30 mil páginas que escreveu relatando os dramas e vidas de mais de 500 anos de nobrezas e dinastias de todo o mundo. Santiago se relaciona com esse passado, seu e das nobrezas - ele de certa maneira viveu em uma - com a paixão de quem acompanha um folhetim, uma novela, um melodrama. Como frisado pelo filme, seu universo se estende entre épocas e culturas, entre Hollywood e Versailles, entre Gioto e Beethoven.
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Apesar do personagem, João Salles abandona o filme em 1992. Quando retoma o filme em 2005 é ele próprio que vira personagem. Narrado em primeira pessoa, na voz do irmão, Fernando Moreira Salles (apresentado em inglês no festival em Paris, com narração de Fernando Alves Pinto), o processo do filme passa a fazer parte dele e aparece, sobretudo, como uma autocrítica ao seu modo de conduzir o filme em 1992 e ao fato de na época não ter percebido a relação de poder ali presente. Ao poder do documentarista se somava o poder do filho do patrão. Em uma das cenas mais reveladoras e afirmativas, Salles é chamado de “maravilhoso Joãozinho” por Santiago. Cena que na época João Salles pede a Santiago para repetir sem mencionar seu nome e que hoje é parte do filme. Durante as filmagens a hierarquia deveria ser apagada, hoje ela é tema do filme.
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